Monge Tabajara trabalhando em uma de suas obras |
Depois de quase 20 anos esculpindo exclusivamente Budas, o Monge Zen Tabajara Busshi fará a sua primeira exposição, no dia 5 de setembro, a partir das 15h, durante as festividades dos 30 anos de fundação do Mosteiro Zen Pico de Raios, no Morro São Sebastião, em Ouro Preto (MG).
Tabajara apresentará cerca de 25 esculturas em pedra sabão de variados tipos e tamanhos, tais como Jizo, Kanon, Manjushri e outros pequenos Budas em posição de Zazen, alguns cedidos do acervo particular de amigos do artista.
A mostra está sendo montada dentro de um grande buraco com cerca de 5 metros de altura e oito de diâmetro, na frente da mina de ouro desativada do Mosteiro. O local, que está sendo transformado numa verdadeira galeria de arte, foi onde Mestre Tokuda lançou, cerca de cinco anos atrás, o projeto dos Mil Budas.
A disposição das peças na Boca da Mina será arrumada pelo próprio Mestre Tokuda, que declarou, em sua vinda ao Brasil, no ano passado, que as obras do Monge Busshi são únicas no mundo, tendo o comparado, inclusive, a Van Gogh, cujo trabalho só foi reconhecido após a morte.
Trajetória Zen
Tabajara Busshi começou a trabalhar com pedra sabão em 1998, no Mosteiro Zen Serra do Trovão, em Lavras Novas, por orientação do falecido Monge Paulo Gain. Ele começou fazendo pés de Buda, mas ao longo da sua trajetória foi aperfeiçoando o traço, passando, com o tempo, a esculpir Budas de corpo inteiro. Hoje, o monge escultor já pode apresentar uma marca registrada em suas obras, uma "digital" própria.
Com uma simplicidade peculiar, Monge Tabajara prefere apenas dizer que essa exposição será o coroamento de um trabalho que sempre esteve ligado à sua prática Zen. Ele aproveita a ocasião para agradecer a todos os amigos que sempre lhe ajudaram, especialmente ao seu Mestre Tokuda, com suas importantes orientações e incentivos, doando livros e modelos de Budas para estudos, trazidos do Japão.
Uma das peças produzidas pelo monge |
A especialista em patrimônio arquitetônico Raquel Castro (economista e mestra em Economia e Técnicas de Preservação do Patrimônio Arquitetônico e Ambiental, pelo Instituto Universitário de Arquitetura de Veneza, da Itália, e pela Universidade de Nova Goriza, da Eslovênia) identificou semelhanças entre as obras do escultor e monge com a trajetória do Barroco em Minas Gerais.
Raquel explica que, com a pedra sabão - material usado atualmente pelo Monge Tabajara -, muitos dos artistas da época do Barroco fizeram uma releitura dos modelos europeus, em particular as obras sacras, “assim como o Tabajara faz hoje com as escultura budistas”, avalia a especialista.
“O Barroco no Brasil foi formado por uma complexa teia de influências europeias e locais, embora, em geral, coloridas pela interpretação portuguesa do estilo. É preciso lembrar que o contexto econômico em que o Barroco se desenvolveu na Colônia era completamente diverso daquele que lhe dava origem na Europa. As obras do Tabajara Busshi misturam influências orientais e locais, também em um contexto econômico diverso”, analisa Raquel.