O trecho a seguir foi extraído do Prefácio escrito pelo mestre Tokuda no livro Shobogenzo Zuimonki, de autoria de Eihei Dogen Zenji, com tradução do monge Ryokyu Marcos Beltrão.
"Exatamente o que nós perdemos na nossa sociedade moderna é esta ideia de nossas limitações ou de termos sensibilidades para com nossas limitações. A sociedade moderna fala muito em “Liberdade” para os seres humanos, dentro deste mundo profano e na busca de nossos desejos sem limites.
Mas originalmente “Liberdade” significa liberdade de nossas motivações emocionais, de nossas limitações emocionais e não liberdade no sentido de podermos fazer aquilo que bem desejarmos livremente, mas sim reconhecendo o valor e preciosidades nossas como seres humanos que somos. É a este tipo de liberdade racional que se refere Mestre Dogen.
O fato é que nós seres humanos temos a natureza de buscar o conforto e queremos evitar e colocar de lado todo tipo de sofrimentos. Queremos em resumo buscar aquilo que mais agradável for e o que for menos dolorido possível. Segue-se em decorrência disto que toda nossa motivação para a ação só pode ser a mais egocêntrica possível. Mas exatamente por isto, o fundamental que temos que fazer é realizar a felicidade do maior número de pessoas possível.
Para buscarmos a maior felicidade para o maior número possível de pessoas, então cada um de nós precisa controlar a si mesmo.
Vê-se pois que “Liberdade” tem um significado totalmente oposto à ação egoísta, de acordo com nossas motivações sensíveis.
O que ocorre hoje em dia é que nós confundimos esta ideia de que temos todo o direito de agir naquilo e no tanto que quisermos com a natureza e com os seres humanos. E com isto nos esquecemos totalmente de nossas limitações. Então isto que entendemos como “Liberdade” não é a verdadeira “Liberdade”, mas tão somente e apenas nossas ideias de egoísmo autocentradas.
Hoje em dia nós perdemos a harmonia que deveria existir entre a natureza e o ser humano e também a perdemos no que diz respeito à harmonia entre as próprias pessoas entre si, e dentro de nós mesmos a perdemos entre as emoções e razões que nos regem a todos.
Nós perdemos algo de muito importante através do qual viver esta vida. E o fato é que ainda sequer reconhecemos aquilo que perdemos".
"O budismo é o vazio total. E dentro do vazio aparecem existências maravilhosas. Este mundo é exatamente isso: tudo é vazio e só se vê o vazio. As coisas existem mas não têm identidade. As coisas se formam provisoriamente com a união dos elementos, mas estão mudando totalmente. Isto era árvore, agora é madeira, amanhã é mesa e depois pode queimar ou apodrecer."