sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Sobre a Essência da Vida Espiritual

"A essência de toda a vida espiritual é uma emoção que existe dentro de você, é uma atitude para outros. Se sua motivação é pura e sincera, todo o resto vem por si. Você pode desenvolver essa atitude correta para seus semelhantes com base em bondade, sem amor, sem respeito e principalmente clara a percepção da singularidade de cada ser humano.

O poder de cura do espírito segue naturalmente o caminho do espírito. Não reside entre paredes de luxo, nem ouro que cobre como imagens, nem seda com que modelam como roupas, nem mesmo papel de documentos sagrados, mas vive na substância inefável da mente e no coração dos homens. Devemos sublimar os instintos de nosso coração e purificar nossos pensamentos."
                                   Sua Santidade, o Dalai-Lama

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Retorno das Atividades

O Centro Zen do Recife vem comunicar que retornará às atividades na próxima quinta-feira pela manhã( às 06:00h) e à noite (18:00h) para àquelas pessoas que vão pela primeira vez! Gasshô!

Nonindo


Sejam todos bem-vindos!!
A data será na próxima segunda feira, 02/03/2020.
A prática acontecerá diariamente as 6h até cerca de 7:45 com a cerimônia budista e 2as e 4as a partir das 19h!
Pela manhã as 6h com cerimônia completa todos os dias e segunda e quarta para iniciantes a partir das 18h e zazem às 19h.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Experiência, não Filosofia

Embora muitas pessoas neste país estejam interessadas no budismo, poucas estão interessadas em sua forma pura. A maioria está interessada em estudar o ensinamento ou a filosofia do budismo. Ao compará-lo com outras religiões, apreciam quanto o budismo é satisfatório intelectualmente. Mas se o budismo é filosoficamente profundo, bom ou perfeito, não vem ao caso. Nosso propósito é manter nossa prática em sua forma pura. As vezes, sinto que há qualquer coisa de blasfêmia em falar de como o budismo é perfeito enquanto filosofia ou ensinamento, sem saber o que ele é na realidade.
Praticar zazen em grupo é a coisa mais importante para o budismo - e para nós - porque esta prática é o modo de vida original. Sem conhecer a origem das coisas, não podemos avaliar o resultado do esforço de toda uma vida. Nosso esforço há de ter algum sentido. Encontrar o sentido de nosso esforço é encontrar a fonte original de nosso esforço. Não devemos nos preocupar com o resultado de nosso esforço antes de conhecer sua origem. Se a origem não for clara e pura, nosso esforço não será puro e o resultado não nos satisfará. Quando retomamos nossa natureza original e incessantemente nos esforçamos a partir dessa base, então apreciamos o resultado de nosso esforço momento após momento, dia após dia, ano após ano. Eis como devemos apreciar a vida. Aqueles que se apegam apenas ao resultado de seu esforço não terão qualquer oportunidade de apreciá-lo, porque o resultado nunca virá. Mas se, momento após momento, seu esforço emergir de sua origem pura, tudo quanto você fizer será bom, e você ficará satisfeito com qualquer coisa que faça.
A prática do zazen é a prática em que retomamos nossa forma pura de viver, para além de qualquer ideia de posse, fama ou lucro. Pela prática, conservamos nossa natureza original tal qual ela é. Não há necessidade de intelectualizar acerca do que é nossa natureza pura, original, mesmo porque está além de nosso entendimento intelectual. Não há necessidade de apreciá-la, porque está além de nossa apreciação. Assim, apenas sentarmos, sem qualquer ideia de ganho e com a mais pura intenção, permanecendo tão tranquilo como a nossa natureza original esta é nossa prática.
No zendô, nada há que seja decorativo. Apenas chegamos e nos sentamos. Depois de comunicar-nos uns com os outros, vamos para casa e retomamos nossa atividade diária como uma continuidade de nossa prática pura, apreciando nosso modo de vida verdadeiro. Contudo, isto é muito pouco usual. Onde quer que eu vá as pessoas me perguntam: "O que é budismo?", com seus cadernos preparados para anotar minha resposta. Vocês podem imaginar como eu me sinto! Mas, aqui, só praticamos zazen. É tudo o que fazemos e somos felizes nesta prática. Para nós, não há necessidade de entender o que é o Zen. Nós praticamos zazen. Assim, para nós não há necessidade intelectual de saber o que é o Zen. Isto, penso eu, é muito incomum para a sociedade americana.
Nos Estados Unidos existem muitos modos de vida e muitas religiões; assim, parece bastante natural falar sobre as diferenças entre as várias religiões e comparar umas com as outras. Mas, para nós, não há necessidade de comparar budismo e cristianismo. Budismo é budismo, e budismo é a nossa prática. Quando praticamos com uma mente pura, nem sequer sabemos o que estamos fazendo. Assim, não podemos comparar nosso caminho com qualquer outra religião. Algumas pessoas podem dizer que Zen-budismo não é religião. Talvez seja assim, ou talvez o Zen-budismo seja uma religião anterior à religião. Desse modo, não seria uma religião no sentido usual. Mas é maravilhoso e, embora não o estudemos intelectualmente, embora não tenhamos catedrais nem ornamentos decorativos, podemos apreciar nossa natureza original. Isto é, penso eu, bem fora do comum.


Mestre Shunryu Suzuki, no livro: Mente Zen, Mente de Principiante, ed. Palas Athena

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Se Você Encontrar Dificuldades Em Sua Prática


Se você encontrar dificuldades em sua prática, é sinal de que tem alguma ideia errada a respeito dela e convém tomar cuidado. Mas não abandone a prática; continue com ela ciente da sua fragilidade.
Aqui não há ideia de ganho. Aqui não há ideia fixa de conquista. Você não diz "isto é iluminação" ou "essa não é a prática correta". Mesmo na prática errada, desde que tome consciência do fato e persevere, sua prática estará sendo correta. Nossa prática pode não ser perfeita, mas temos de continuar, sem permitir que isso nos desencoraje. Esse é o segredo da prática.
E se você quiser encontrar algum incentivo dentro do seu desânimo, o próprio cansar-se da prática já é por si só um estímulo. Encoraje a si próprio quando estiver cansado dela. O não querer fazê-la é um sinal de aviso. É como a dor provocada pelo dente que não está bom. Quando você sente dor de dentes você vai ao dentista. Esse é o nosso caminho.
A causa do conflito é alguma ideia preconcebida ou unilateral. Quando todos reconhecerem o valor da prática pura, haverá poucos conflitos em nosso mundo. Este é o segredo da nossa prática e o caminho do mestre Dogen. Dogen insiste nesta questão no livro Shobogenzo ("Um tesouro do verdadeiro Darma").
Se você entender que a causa do conflito está nas ideias preconcebidas ou unilaterais, pode encontrar sentido em várias práticas sem se deixar prender por nenhuma delas. Se não se aperceber disso, você poderá facilmente ficar aprisionado a alguma forma particular e dirá: "Isto é iluminação! Esta é a prática perfeita. Este é o nosso caminho; os outros não são perfeitos. Este é o melhor caminho".
Grande equívoco. Na verdadeira prática não há caminho especial. Você deve descobrir seu próprio caminho e específica, você deve limitar sua atividade. Quando sua mente está vagando por outros lugares, você não tem oportunidade de expressar a si próprio. Mas se limitar sua atividade àquilo que está fazendo agora mesmo, neste exato momento, então você pode expressar sua verdadeira natureza de forma plena, que é a natureza universal de Buda. Este é o nosso caminho.
Quando praticamos zazen, restringimos ao máximo nossa atividade. Expressamos a natureza universal apenas mantendo a postura correta e a concentração no sentar. Então nos tornamos Buda e expressamos sua natureza.
Em vez de termos um objeto de devoção, simplesmente nos concentramos na atividade que temos a cada momento. Quando se prostrar, deve apenas prostrar-se, quando se sentar, apenas sentar-se, enquanto come, apenas comer!
Desse modo, a natureza universal estará presente. Em japonês, diz-se ichigyo-zammai ou "samádi da ação única". Zammai (samádi) é "concentração". Ichigyo é "prática única".
Acho que alguns de vocês, que praticam zazen aqui, podem acreditar em alguma outra religião. Isso não tem importância alguma. Nossa prática não tem nada a ver com crenças religiosas, sejam elas quais forem. E vocês não precisam hesitar em praticar nosso caminho pelo fato de ele não ter nada a ver com cristianismo, xintoísmo ou hinduísmo. Nossa prática é para todos. Geralmente, quando alguém acredita em alguma religião em particular, sua atitude se torna como um ângulo cada vez mais agudo e apontado para fora de si. Mas o nosso caminho não é esse. Em nosso caminho, o vértice desse ângulo sempre aponta para nós mesmos. Por isso, não há por que se preocupar com a diferença entre o budismo e a religião que vocês seguem.

 Shunryu Suzuki