Os problemas da
mente não podem ser solucionados ao nível da mente. Depois de ter compreendido
a disfunção básica, não há muito mais a aprender ou a compreender. Estudar as
complexidades da mente poderá fazer de você um bom psicólogo, mas isso não o
levará para além da mente, tal como o estudo da loucura não basta para criar
saúde mental. Já compreendeu o mecanismo básico do estado inconsciente: a
identificação com a mente, a qual cria um falso eu, o ego, como substituto para
o seu eu verdadeiro enraizado no Ser. Você torna-se como que um "ramo
cortado da árvore", como disse Jesus.
As necessidades do
ego são inúmeras. Ele sente-se vulnerável e ameaçado e por isso vive num estado
de medo e de carência. A partir do momento em que você compreende os mecanismos
da disfunção básica, deixa de ser preciso explorar todas as inúmeras
manifestações do ego, de fazer dele um problema pessoal complexo. É evidente
que o ego adoraria isso. Andando sempre à procura de alguma coisa a que se
agarrar, a fim de sustentar e fortalecer a sua ilusória sensação de identidade,
o ego prontamente se agarrara aos seus problemas. É por isso que uma grande
parte da sensação de identidade de tantas pessoas está intimamente ligada aos
seus problemas e a última coisa que essas pessoas querem é livrar-se deles;
porque isso representaria a perda do "eu". Inconscientemente, o ego
investe muito na dor e no sofrimento. Portanto, ao reconhecer que a raiz da
inconsciência é a identificação com a mente, o que evidentemente inclui as
emoções, você sai dela. Torna-se presente. Quando está presente, você pode
permitir que a mente seja aquilo que é sem se enredar nela. A mente em
si não é disfuncional. É um instrumento maravilhoso. A disfunção
instala-se quando você procura nela o seu eu e faz dela a sua identidade.
Torna-se então a mente egóica e dirige toda a sua vida.
Enquanto você estiver
identificado com a sua mente, o ego dirigirá a sua vida, e uma parte intrínseca
da mente egóica é uma sensação profundamente enraizada de falta de algo,
ou de não estar completo, de não ser total. Em algumas pessoas, é
uma sensação consciente, noutras inconsciente. Quando é consciente,
manifesta-se na forma de um inquietante e constante sentimento de não ser digno
ou suficientemente bom. Quando é inconsciente, só se sente indiretamente, sob a
forma de uma intensa ânsia de possuir, de uma carência, de um precisar de
qualquer coisa. Em qualquer dos casos, as pessoas começam muitas vezes a tentar
satisfazer o ego de forma compulsiva e a procurar coisas com as quais se possam
identificar, a fim de preencherem o vazio que sentem dentro de si. E lançam-se atrás de bens materiais, dinheiro, sucesso,
poder, prestígio, ou um relacionamento especial, basicamente para se sentirem
melhores consigo próprias, para se sentirem mais completas. Mas depois
de alcançarem todas essas coisas, descobrem rapidamente que o vazio continua a
existir, que ele não tem fim. É então que começam os problemas a sério, porque
elas não se conseguem iludir mais a si próprias. Bem, na verdade conseguem, e
até o fazem, mas torna-se muito mais difícil.
Já que o ego é uma sensação derivada do eu,
precisa de se identificar com coisas exteriores. Precisa de ser defendido e
alimentado constantemente. As identificações mais comuns do ego têm a ver com
bens materiais, com o trabalho que você faz, o seu estatuto e prestígio social,
os seus conhecimentos e educação, a sua aparência física, os seus
relacionamentos, aptidões especiais, história pessoal e familiar, convicções –
incluindo as convicções políticas, nacionalistas, raciais, religiosas e outras
identificações coletivas. Nada disso é você próprio.Eckhart Tolle
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