sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

As Virtudes dos Bodhisattvas

    Intenção dotada de desejo constitui um querer. Ajudar os outros motivados pelo desejo. Deixar-se levar por intenções nocivas implica que se deseja prejudicar outros. Enfado é [sinal de] uma mente instável, desejar união carnal é fruto de uma mente maculada; apatia consiste em um corpo sem vigor, fruto de lassidão. Adoecer é a influência, no corpo e na cor, das aflições; não querer alimento explica-se como desconforto que advém do fartar-se.
    Uma mente muito fraca, ensina-se que [resulta] de timidez e medo. Ansiar por desejos é almejar e buscar sempre os cinco atributos. Intenções nocivas para com outros surgem de nove causas: ter receios injustificados acerca de si mesmo, de amigos e de inimigos no passado, presente e futuro. Preguiça e não-atividade devida a corpo e mente pesados; dormir e estar inativo; excitação e falta de paz física e mental.
    Contrição é arrependimento pelas más ações e surge após o remorso; dúvida é ter duas concepções acerca das (quatro) verdades, das Três Jóias e assim por diante. Os bodhisattvas [chefes de família] abandonam tudo isso; os que observam os votos [de monge] abandonam muito mais. Uma vez livre desses defeitos, as virtudes são facilmente observadas.
    Em síntese, as virtudes observadas pelos bodhisattvas são: dar, ética, paciência, esforço, concentração, sabedoria, compaixão, etc. Dar é desprender-se completamente da própria riqueza; ética é ajudar os outros; paciência é abandonar a ira; esforço é comprazer-se nas virtudes. Concentração é a unidirecionalidade imperturbável, sabedoria é certeza sobre o significado das verdades; compaixão é uma mente que só se regozija na clemência e amor por todos os seres sencientes.
    Do dar resulta a riqueza, da ética, felicidade; da paciência, um bom semblante; do [esforço na] virtude, esplendor; da concentração, paz; da sabedoria, liberação; da compaixão, a consumação de todos os propósitos. Pela perfeição simultânea dessas sete [virtudes], atinge-se a esfera de sabedoria inconcebível, o protetorado do mundo.

(A Grinalda Preciosa - Nagarjuna)

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Próxima Atividade:
Quinta dia 02 de janeiro às 19h: Zazen, leituras e chá.

* Aqueles que vêm pela primeira vez precisam receber a orientação de postura. Para isso, é preciso chegar por volta das 18h.

* Para qualquer atividade, chegar com, ao menos, 15 minutos de antecedência.




Encontros de setembro a dezembro

Retomamos as atividades no templo com muita alegria e dedicação! Aqui estão as fotos de setembro, outubro, novembro e dezembro – registrando os momentos em que lembramos de fotografar. Que possamos seguir juntos, fortalecendo nossa prática e conexão.








 




quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

É como escalar uma montanha

 

“É como escalar uma montanha. Cada passo em direção ao alto permite-nos enxergar mais, e essa visão não nega as coisas que ficaram embaixo — ela as inclui —, mas se torna maior a cada etapa da subida, a cada estágio do esforço. Quanto mais enxergamos, mais abrangente nossa visão, mais saberemos o que fazer, qual ação encetar.”

Charlote Joko Beck — Sempre Zen



sábado, 21 de dezembro de 2024

O Mokugyo

木魚 Mokugyo


    O 木魚 mokugyo (literalmente, Peixe de Madeira) é um tipo de bloco de percussão originário da China, utilizado como instrumento musical por monges e leigos na tradição Mahayana do Budismo. Eles são empregados em cerimônias budistas na China, Coreia, Japão, Vietnã e outros países asiáticos. O mokugyo é frequentemente usado em rituais que envolvem a recitação de sutras, mantras ou outros textos budistas servindo para manter o ritmo durante os cantos e recitações. 
    O instrumento é esculpido com escamas de peixe na parte superior e apresenta uma gravura de duas cabeças de peixe envolvendo uma pérola no cabo (para simbolizar a unidade). Por isso, o instrumento é chamado de peixe de madeira. No budismo, o peixe, que nunca dorme, simboliza o estado de vigília, servindo para lembrar os monges que recitam sutras a manterem a concentração. O som produzido pelo instrumento simboliza a atenção desperta.
    Estão disponíveis em diversos tamanhos e formas, variando de 15 centímetros para uso leigo ou prática diária individual, até 1,2 metros para uso em templos. Algumas versões enormes encontradas em templos budistas japoneses chegam a pesar mais de 300Kg. Em templos chineses, eles são frequentemente colocados à esquerda do altar, ao lado de uma tigela sino (keisu), seu equivalente metálico de percussão. O peixe de madeira geralmente repousa sobre uma pequena almofada bordada para evitar sons indesejados de batida ao contato com superfícies duras, além de prevenir danos ao instrumento.

Origem mítica

    Existem muitas histórias associadas à criação do mokugyo. Segundo uma lenda budista, um monge foi à Índia buscar sutras, mas no caminho encontrou um rio largo e inundado que bloqueava sua passagem. Um peixe ofereceu-se para carregar o monge até o outro lado, pois desejava expiar um crime cometido em uma vida anterior, quando ainda era humano. O pedido simples do peixe era que, ao chegar ao seu destino, o monge solicitasse ao Buda um método para que o peixe pudesse atingir o estado de bodhisattva. O monge aceitou o pedido do peixe e continuou sua jornada. Após 17 anos, quando retornava à China com os sutras, o monge reencontrou o mesmo rio inundado. O peixe apareceu novamente e perguntou ao monge se ele havia feito o pedido ao Buda. O monge, porém, confessou que havia esquecido.
    Furioso, o peixe o derrubou na água com um forte golpe de cauda. Um pescador que passava salvou o monge de se afogar, mas todos os sutras haviam sido perdidos no rio. Tomado pela raiva, o monge esculpiu uma efígie de cabeça de peixe em madeira e começou a batê-la com um martelo, como uma forma de punição simbólica. Para sua surpresa, a cada golpe, o peixe de madeira emitia sons que correspondiam a caracteres chineses. Feliz com o ocorrido, o monge continuou a bater regularmente no peixe de madeira. Após alguns anos, o monge conseguiu recuperar todos os sutras perdidos na enchente, que saíram da boca do peixe de madeira.






Mestre Tokuda recitando o Maka Hannya Shingyo
utilizando um mokugyo

Shodo Harada Roshi explica: O mokugyo deve ser tocado como um trem, lentamente, mas constantemente aumentando a velocidade para reunir mais e mais energia. O final do sutra é tocado de uma forma como se o trem entrasse em uma estação, diminuindo a velocidade e parando.



quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Boas amizades são metade do caminho?

Upaddha Sutta: Metade (da vida santa)

Figura de bronze de Ananda.
China, dinastia Ming.
Assim ouvi. Em certa ocasião o Abençoado estava vivendo entre os Sakyas*. Agora, há uma cidade dos Sakyas chamada Sakkara. Lá, o Venerável Ananda foi até o Abençoado e, ao chegar, tendo se inclinado diante do Abençoado, sentou-se a um lado. Enquanto estava sentado, o Venerável Ananda disse ao Abençoado: 

— Isto é metade da vida santa, senhor: amizade nobre, boa companhia, relações virtuosas.

— Não diga isso, Ananda. Não diga isso. Amizade nobre, boa companhia, relações virtuosas são, na verdade, o todo da vida santa. Quando um monge tem pessoas virtuosas como amigos, companheiros e associados, pode-se esperar que ele desenvolva e siga o nobre caminho óctuplo.


*Os Sakyas eram um clã da região de Kapilavastu, localizado ao norte da atual Índia e no sul do Nepal. Esse clã é particularmente significativo na história do budismo, pois o Buda histórico, Siddhartha Gautama, nasceu em uma família Sakya. Ele é frequentemente referido como "Sakyamuni", que significa "Sábio dos Sakyas".

terça-feira, 17 de dezembro de 2024

As Armadilhas do Apego e da Hipocrisia

Leitura de 17 de Dezembro - Noite

Os Feitos do Bodhisativa

Hipocrisia é controlar os sentidos com vistas a bens e respeito; bajulação é proferir palavras agradáveis com vistas a bens e respeito. Aquisição indireta é elogiar a riqueza de outros para obtê-la; aquisição astuta é zombar de outros a fim de adquirir-lhes os bens. Desejar acrescentar lucro a lucro é exaltar aquisições anteriores.

Falar das faltas alheias é repetir os erros cometidos por outros.

Perder a compostura é excitação egoísta que é desconsideração pelos outros; Obstinação é o apego dos indolentes às suas más posses.

Fazer diferenças é discriminação obscurecida pelo desejo, ódio ou confusão; não olhar para dentro da mente considera-se como não aplicá-la a coisa alguma.

Aquele que por indolência perde o respeito e a reverência pelos que realizam práticas que são semelhantes, é um guia espiritual que não segue os passos do Bem-aventurado; esse é considerado nocivo.

Apego é um pequeno obstáculo que surge do desejo; quando forte, constitui grande obstáculo que surge do desejo. Apego é uma atitude de aferrar-se aos próprios bens; apego exorbitante é aferrar-se aos bens dos outros.

Luxúria ímpia é a exaltação libidinosa de mulheres, que [de fato] devem abandonar-se.

Hipocrisia é alguém [fingir] que possui qualidades de que carece enquanto almeja não-virtudes.

Desejo intenso é extrema cobiça que ultrapassa a ventura de conhecer satisfação; avidez por ganho é querer ser conhecido sempre como dotado de qualidades superiores.

Impaciência é inabilidade para suportar ofensa e sofrimento; impropriedade é não respeitar as atividades de um guia espiritual ou mestre.

Não prestar atenção aos conselhos é desconsiderar a recomendação daqueles de prática similar.

Intenção de reunir-se com parentes é apego afetuoso à própria família.

Fixação por objetos é enumerar suas qualidades a fim de adquiri-los.

Imaginar a imortalidade é não sentir preocupação pela morte.

(A Grinalda Preciosa - Nagarjuna)





sábado, 14 de dezembro de 2024

As sete formas de orgulho

Leitura de 10 de Dezembro - Noite

Os Feitos do Bodhisativa

   Tendo vos tornado um monge, devereis treinar-vos primeiro com firmeza [em ética]; depois, dedicar-vos à disciplina da emancipação individual escutando [a recitação das escrituras] vez após vez e verificando seu significado. Então, conhecendo as faltas menores, abandonai as fontes a ser abandonadas; com determinação, podereis tomar consciência plena das cinquenta e sete faltas.

   A ira é uma perturbação da mente, a hostilidade a perturba mais ainda; dissimulação é um ocultar de faltas; ressentimento, um apego a caminhos faltosos. Desonestidade é impostura extrema; fingimento, tortuosidade da mente; inveja é sofrer pelas boas qualidades de outros; avareza é o temor de dar. Ser insolente e desavergonhado expressa insensibilidade para consigo e os outros; presunção conduz à falta de respeito; esforço perverso é contaminação que advém da ira. Arrogância é acreditar-se superior; não-consciência é negligenciar as virtudes; o orgulho tem sete formas, cada uma das quais vos explanarei:

   Vangloriar-se de ser o mais humilde entre os humildes, ou igual ao igual, ou maior do que, ou igual ao humilde, chama-se orgulho da personalidade;

   Vangloriar-se de ser igual àqueles que por alguma qualidade são melhores, é orgulho de superioridade;

  Pensar que se é mais elevado que os extremamente elevados, que acreditam ser superiores, é orgulho maior que o orgulho - como um abcesso num tumor, isso é muito maligno;

   Conceber um "eu" devido à ignorância dos cinco vazios [agregados], que são chamados de apropriação, diz-se que é o orgulho de pensar "eu".

   Acreditar que já foram obtidos frutos ainda não alcançados é o orgulho da presunção.

   Gabar-se de atos indignos é conhecido pelo sábio como falso orgulho.

   Menosprezar a si mesmo, pensando "eu sou insensato", é chamado o orgulho da modéstia

   Estes são, em suma, os sete orgulhos.

(A Grinalda Preciosa - Nagarjuna)

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Nossas Atividades
Terças às 19h: Zazen, leituras e chá. 

* Aqueles que vêm pela primeira vez precisam receber a orientação de postura. Para isso, é preciso chegar por volta das 18h.
* Para qualquer atividade, chegar com, ao menos, 15 minutos de antecedência.