quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Os Pares


1. A mente antecede todos os estados mentais. A mente é o seu criador, pois são todos forjados pela mente. Se uma pessoa fala ou age com uma mente impura, o sofrimento segue-a como a roda que segue o pé do boi.

2. A mente antecede todos os estados mentais. A mente é o seu criador, pois são todos forjados pela mente. Se uma pessoa fala ou age com uma mente pura, a felicidade segue-a como uma sombra que jamais a abandona.

3. “Ele abusou de mim, ele bateu-me, ele dominou-me, ele roubou-me”. Aqueles que abrigam tais pensamentos não acalmam o seu ódio.

4. “Ele abusou de mim, ele bateu-me, ele dominou-me, ele roubou-me”. Aqueles que não abrigam tais pensamentos acalmam o seu ódio.

5. Neste mundo o ódio nunca é apaziguado pelo ódio. O ódio é apaziguado unicamente através de não-ódio. Esta é uma lei eterna.

6. Há aqueles que não percebem que um dia todos nós morreremos. Mas aqueles que percebem isso resolvem as suas desavenças.  

7. Assim como uma tempestade deita abaixo uma árvore fraca, o mesmo sucede quando Mara vencer o homem que vive para a busca de prazeres, descontrolado nos seus sentidos, imoderado no comer, indolente e disperso.

8. Assim como uma tempestade não abala uma montanha rochosa, da mesma forma Mara jamais controla o homem que vive a meditar sobre o que é impuro, que tem controlo nos seus sentidos, moderado no comer, cheio de fé e esforço sincero.

9. Quem for depravado, destituído de autodomínio e vera- cidade, ao vestir o hábito amarelo do monge, certamente não é digno dele.

10. Mas quem quer que se tenha depurado da depravação, bem estabelecido nas virtudes e pleno de autodomínio e veracidade, é na realidade digno do hábito amarelo.

11. Aqueles que confundem o que não é essencial como sendo essencial e o que é essencial com não sendo essencial, nutrindo pensamentos errados, nunca chegarão ao que é essencial.

12. Aqueles que conhecem o essencial como sendo essencial e aquilo que não é essencial como não essencial, nutrindo pensamentos corretos, chegarão ao essencial.

13. Assim como a chuva penetra na casa mal coberta de colmo, também a paixão penetra numa mente pouco vigiada.


14. Assim como a chuva não penetra numa casa bem coberta de colmo, também a paixão jamais penetra uma mente bem vigiada.

15. Aquele que faz o mal sofre no presente e no futuro, sofre em ambos os mundos. Lembrando-se dos seus atos impuros, ele lamenta e fica aflito.

16. Aquele que faz o bem, alegra-se no presente e no futuro, alegra-se em ambos os mundos. Relembrando as suas ações puras, ele se alegra e exulta.

17. Aquele que faz o mal sofre no presente e no futuro, sofre em ambos os mundos. O pensamento “Eu fiz mal” atormenta-o e sofre ainda mais quando renascer nos reinos de aflição.

18. Aquele que faz o bem rejubila no presente e no futuro, é feliz em ambos os mundos. O pensamento “Eu fiz o bem”, encanta-o e deleita-se ainda mais quando renascer nos reinos de felicidade.

19. Por muito que recite os textos sagrados, se não agir nesse sentido, o homem descuidado é como um pastor que só conta as vacas dos outros - ele não beneficia das bênçãos da vida santa.

20. Por pouco que recite os textos sagrados, se o homem colocar o Ensinamento em prática, abandonando a luxúria, o ódio e a ilusão, com verdadeira sabedoria e espírito livre, apegado a nada deste ou de qualquer outro mundo - ele realmente participa das bênçãos de uma vida santa. 

cap. do livro Dhammapada - “O Caminho da Sabedoria do Buddha”, de Acharya Buddharakkhita 


terça-feira, 22 de outubro de 2019

Quietude


"Para o estudante Zen uma erva daninha é um tesouro."
Há um poema Zen que diz: "Depois que o vento cessa, eu vejo a flor que cai. Por causa do pássaro que canta, descubro a quietude da montanha". Antes que algo aconteça no reino da quietude, nós não sentimos a quietude; só a percebemos quando algo a perturba. Há um ditado japonês que diz: "Para a lua, há nuvem; para a flor, vento". Quando vemos parte da lua encoberta por uma nuvem, uma árvore ou uma planta, percebemos melhor quão redonda ela é. Quando vemos a lua clara sem nada que a encubra, não percebemos sua redondez do mesmo modo que a percebemos ao vê-la através de alguma outra coisa.
Quando em zazen, você está dentro da completa quietude de sua mente: você nada sente. Está apenas sentado. Mas a quietude que provém desse sentar irá encorajá-lo na vida cotidiana. Assim, você achará de fato o valor do Zen no dia-a-dia, mais do que quando se senta. Porém, isto não significa que você deva negligenciar o zazen. Muito embora nada sinta quando sentado, se não tiver essa experiência do zazen, você nada encontrará em sua vida diária exceto plantas, árvores ou nuvens: você não verá a lua. Eis por que está sempre reclamando de algo. Mas, para o estudante Zen, uma erva daninha - que para a maioria das pessoas nada vale - é um tesouro. Com tal atitude, o que quer que você faça, sua vida se torna uma arte.
Quando você pratica zazen não deve procurar atingir nada. Sente-se na completa quietude da sua mente e não busque apoio em coisa alguma. Mantenha o corpo reto sem inclinar-se ou apoiar-se em nada. Manter o corpo reto significa não contar com nada. Dessa maneira, você obterá completa quietude, física e mental. Contar com alguma coisa ou tentar fazer algo no zazen é dualismo; não é quietude total.
Na vida diária, geralmente estamos tentando fazer algo, tentando transformar uma coisa em outra ou atingir algo.

Essa tentativa é, em si mesma, expressão da nossa verdadeira natureza. O sentido reside no próprio esforço. Temos de descobrir o sentido do nosso esforço antes mesmo de atingir algo. Por essa razão, Dogen disse: 'Devemos alcançar a iluminação antes de alcançá-la". Não é depois de atingir a iluminação que descobriremos seu verdadeiro significado. A própria tentativa de fa-. zer alguma coisa já é iluminação. Quando estamos em dificuldades ou em desgraça, aí temos iluminação. Quando afundados na lama, aí devemos conservar a serenidade. Achamos muito difícil viver na fugacidade da vida, mas é só dentro da fugacidade da vida que podemos achar a alegria da vida eterna.
Prosseguindo na prática com tal compreensão, você poderá aperfeiçoar-se. Mas, se tentar atingir algo sem essa compreensão, não conseguirá trabalhar sobre isso de forma adequada. Você perderá a si próprio na luta pelo seu objetivo; nada alcançará e continuará a sofrer em meio a suas dificuldades. Com a correta compreensão, poderá fazer algum progresso. Então, faça o que fizer, ainda que não seja perfeito, isso estará baseado na sua natureza mais íntima e, pouco a pouco, alguma coisa será alcançada. O que é mais importante: atingir a iluminação ou atingir a iluminação antes de atingi-la? Ganhar um milhão de dólares ou desfrutar a vida aos poucos com seu próprio esforço, ainda que seja impossível ganhar aquele milhão? Ter sucesso ou encontrar algum sentido em seu esforço para ser bem-sucedido? Se você não sabe a resposta, não será capaz de praticar zazen; se a sabe, terá encontrado o verdadeiro tesouro da vida.

capítulo do livro Mente Zen, Mente de Principiante, Shunryu Suzuki, ed. Palas Athena

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Palestra Sobre Meditação



Ótima oportunidade para àqueles que desejam conhecer um pouco mais sobre os benefícios da meditação em nossa vida! Aproveitem! Vagas limitadas! 


segunda-feira, 14 de outubro de 2019

ATENÇÃO

O Centro Zen do Recife informa que excepcionalmente nesta semana de 14 a 18 de outubro NÃO HAVERÁ zazen noturno. 
O Centro Zen estará prestigiando e integrando o Seminário Sobre a Morte segundo a visão Cristã, Budista, Filosófica e Islã, que será realizado no Centro Cultural George Stobbaerts localizado na Rua Padre Anchieta, 571, Madalena, Recife.
Aproveitamos e convidamos  todos interessados em participar deste encontro gratuito!



terça-feira, 8 de outubro de 2019

As Ervas Daninhas da Mente





"Você deve ser grato às ervas daninhas que crescem
em sua mente, porque elas afinal vão enriquecer sua prática."

Não creio que lhe agrade quando o despertador toca pela
manhã cedinho e você tem que se levantar. Não é fácil sair da
cama e ir se sentar para meditar. E mesmo depois de chegar ao
zendô e começar o zazen, você tem que encorajar a si próprio para se sentar corretamente.
 Isto são apenas ondas da sua mente.
 Ho zazen puro não deve haver nenhuma onda em sua mente.
Contudo, à medida que você permanece sentado, essas ondas
se tornam cada vez menores e seu esforço se transforma em
sentimento sutil.
Costuma-se dizer que "arrancando as ervas daninhas alimen-
tamos as plantas". Nós arrancamos as ervas daninhas e as enter-
ramos junto às plantas para nutri-las. Portanto, mesmo que você
tenha dificuldade em sua prática, mesmo que haja algumas ondas enquanto está sentado, essas mesmas ondas servirão para
ajudá-lo. Assim, não deve aborrecer-se por causa de sua mente.
Ao contrário, fique grato às ervas daninhas porque elas vão, afi-
nal, enriquecer sua prática. Se você tiver alguma experiência de
como as ervas daninhas se transformam em alimento mental,
sua prática fará progressos notáveis. Você vai sentir o progresso.
Sentirá como é que elas se transformam em auto-alimentação.
Claro que não é difícil fazer interpretações filosóficas ou psico-
lógicas acerca de nossa prática, mas isso não basta.
 O que precisamos é ter a experiência prática de como as nossas ervas
 daninhas se transformam em alimento.
A rigor, nenhum esforço que façamos beneficia nossa prática, 
porque ele cria ondas em nossa mente. 
Contudo, é impossível obter completa serenidade mental 
sem algum tipo de esforço. 
Temos que nos esforçar, mas temos que nos esquecer de nós
mesmos no esforço que fazemos. 
Nesse âmbito não existe objetividade nem subjetividade. 
Nossa mente está simplesmente
ca,ma, sem mesmo termos consciência disso. Nessa ausência de
consciência, qualquer esforço, ideia ou pensamento se dissipa.
Portanto, é necessário encorajar a nós mesmos e esforçar-nos até
o último momento, quando todo esforço desaparece. Você deve
pôr sua mente na respiração até deixar de estar consciente da própria respiração.
Devemos persistir em nosso esforço sempre, mas nem por
isso almejar atingir algum estágio onde nos esqueçamos dele.
Devemos apenas tentar manter nossa mente na respiração. Essa
é a nossa verdadeira prática. A medida que você praticar, esse
esforço se tornará mais e mais refinado. No início, o esforço
resultará um tanto grosseiro e impuro mas, pelo poder da prática,
tornar-se-á cada vez mais puro. Quando seu esforço se torna
puro, seu corpo e sua mente se tornam puros. É essa a forma
como praticamos o Zen. Uma vez que você compreender o po-
der inato que temos de purificar a nós mesmos e aquilo que nos
circunda, você poderá agir apropriadamente, aprenderá com to-
dos os que o rodeiam e será amável com os outros. Esse é o
mérito da prática do Zen. E o caminho da prática é apenas con-
centrar-se na respiração. Com postura correta e com grande e
puro esforço. E assim que praticamos o Zen.

Trecho do livro Mente Zen, Mente de Principiante - Mestre Shunryu Suzuki;

ed. Palas Athena