terça-feira, 8 de outubro de 2019

As Ervas Daninhas da Mente





"Você deve ser grato às ervas daninhas que crescem
em sua mente, porque elas afinal vão enriquecer sua prática."

Não creio que lhe agrade quando o despertador toca pela
manhã cedinho e você tem que se levantar. Não é fácil sair da
cama e ir se sentar para meditar. E mesmo depois de chegar ao
zendô e começar o zazen, você tem que encorajar a si próprio para se sentar corretamente.
 Isto são apenas ondas da sua mente.
 Ho zazen puro não deve haver nenhuma onda em sua mente.
Contudo, à medida que você permanece sentado, essas ondas
se tornam cada vez menores e seu esforço se transforma em
sentimento sutil.
Costuma-se dizer que "arrancando as ervas daninhas alimen-
tamos as plantas". Nós arrancamos as ervas daninhas e as enter-
ramos junto às plantas para nutri-las. Portanto, mesmo que você
tenha dificuldade em sua prática, mesmo que haja algumas ondas enquanto está sentado, essas mesmas ondas servirão para
ajudá-lo. Assim, não deve aborrecer-se por causa de sua mente.
Ao contrário, fique grato às ervas daninhas porque elas vão, afi-
nal, enriquecer sua prática. Se você tiver alguma experiência de
como as ervas daninhas se transformam em alimento mental,
sua prática fará progressos notáveis. Você vai sentir o progresso.
Sentirá como é que elas se transformam em auto-alimentação.
Claro que não é difícil fazer interpretações filosóficas ou psico-
lógicas acerca de nossa prática, mas isso não basta.
 O que precisamos é ter a experiência prática de como as nossas ervas
 daninhas se transformam em alimento.
A rigor, nenhum esforço que façamos beneficia nossa prática, 
porque ele cria ondas em nossa mente. 
Contudo, é impossível obter completa serenidade mental 
sem algum tipo de esforço. 
Temos que nos esforçar, mas temos que nos esquecer de nós
mesmos no esforço que fazemos. 
Nesse âmbito não existe objetividade nem subjetividade. 
Nossa mente está simplesmente
ca,ma, sem mesmo termos consciência disso. Nessa ausência de
consciência, qualquer esforço, ideia ou pensamento se dissipa.
Portanto, é necessário encorajar a nós mesmos e esforçar-nos até
o último momento, quando todo esforço desaparece. Você deve
pôr sua mente na respiração até deixar de estar consciente da própria respiração.
Devemos persistir em nosso esforço sempre, mas nem por
isso almejar atingir algum estágio onde nos esqueçamos dele.
Devemos apenas tentar manter nossa mente na respiração. Essa
é a nossa verdadeira prática. A medida que você praticar, esse
esforço se tornará mais e mais refinado. No início, o esforço
resultará um tanto grosseiro e impuro mas, pelo poder da prática,
tornar-se-á cada vez mais puro. Quando seu esforço se torna
puro, seu corpo e sua mente se tornam puros. É essa a forma
como praticamos o Zen. Uma vez que você compreender o po-
der inato que temos de purificar a nós mesmos e aquilo que nos
circunda, você poderá agir apropriadamente, aprenderá com to-
dos os que o rodeiam e será amável com os outros. Esse é o
mérito da prática do Zen. E o caminho da prática é apenas con-
centrar-se na respiração. Com postura correta e com grande e
puro esforço. E assim que praticamos o Zen.

Trecho do livro Mente Zen, Mente de Principiante - Mestre Shunryu Suzuki;

ed. Palas Athena



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