segunda-feira, 22 de abril de 2019

Sobre Sua Prática


"Se você encontrar dificuldades em sua prática, é sinal de que tem alguma ideia errada a respeito dela e convém tomar cuidado. Mas não abandone a prática; continue com ela ciente da sua fragilidade.
Aqui não há ideia de ganho. Aqui não há ideia fixa de conquista. Você não diz "isto é iluminação" ou "essa não é a prática correta". Mesmo na prática errada, desde que tome consciência do fato e persevere, sua prática estará sendo correta. Nossa prática pode não ser perfeita, mas temos de continuar, sem permitir que isso nos desencoraje. Esse é o segredo da prática.
E se você quiser encontrar algum incentivo dentro do seu desânimo, o próprio cansar-se da prática já é por si só um estímulo. Encoraje a si próprio quando estiver cansado dela. O não querer fazê-la é um sinal de aviso. É como a dor provocada pelo dente que não está bom. Quando você sente dor de dentes você vai ao dentista. Esse é o nosso caminho.
A causa do conflito é alguma ideia preconcebida ou unilateral. Quando todos reconhecerem o valor da prática pura, haverá poucos conflitos em nosso mundo. Este é o segredo da nossa prática e o caminho do mestre Dogen. Dogen insiste nesta questão no livro Shobogenzo ("Um tesouro do verdadeiro Darma").
Se você entender que a causa do conflito está nas ideias preconcebidas ou unilaterais, pode encontrar sentido em várias práticas sem se deixar prender por nenhuma delas. Se não se aperceber disso, você poderá facilmente ficar aprisionado a alguma forma particular e dirá: "Isto é iluminação! Esta é a prática perfeita. Este é o nosso caminho; os outros não são perfeitos. Este é o melhor caminho".
Grande equívoco. Na verdadeira prática não há caminho especial. Você deve descobrir seu próprio caminho e específica, você deve limitar sua atividade. Quando sua mente está vagando por outros lugares, você não tem oportunidade de expressar a si próprio. Mas se limitar sua atividade àquilo que está fazendo agora mesmo, neste exato momento, então você pode expressar sua verdadeira natureza de forma plena, que é a natureza universal de Buda. Este é o nosso caminho.
Quando praticamos zazen, restringimos ao máximo nossa atividade. Expressamos a natureza universal apenas mantendo a postura correta e a concentração no sentar. Então nos tornamos Buda e expressamos sua natureza.
Em vez de termos um objeto de devoção, simplesmente nos concentramos na atividade que temos a cada momento. Quando se prostrar, deve apenas prostrar-se, quando se sentar, apenas sentar-se, enquanto come, apenas comer!
Desse modo, a natureza universal estará presente. Em japonês, diz-se ichigyo-zammai ou "samádi da ação única". Zammai (samádi) é "concentração". Ichigyo é "prática única".
Acho que alguns de vocês, que praticam zazen aqui, podem acreditar em alguma outra religião. Isso não tem importância alguma. Nossa prática não tem nada a ver com crenças religiosas, sejam elas quais forem. E vocês não precisam hesitar em praticar nosso caminho pelo fato de ele não ter nada a ver com cristianismo, xintoísmo ou hinduísmo. Nossa prática é para todos. Geralmente, quando alguém acredita em alguma religião em particular, sua atitude se torna como um ângulo cada vez mais agudo e apontado para fora de si. Mas o nosso caminho não é esse. Em nosso caminho, o vértice desse ângulo sempre aponta para nós mesmos. Por isso, não há por que se preocupar com a diferença entre o budismo e a religião que vocês seguem."
Do livro Mente Zen, Mente de Principiante - mestre Shunryu Suzuki

Nenhum comentário:

Postar um comentário