quarta-feira, 8 de maio de 2019

Sobre o Controle da Mente

“Se praticantes Zen tiverem, em primeiro lugar, a prudência de controlarem suas mentes, tanto mais fácil ser-lhes-á deixar a si mesmos, e ao mundo renunciar. Mas isto não é nada fácil. Monges há, que por exemplo, cientes da reputação pública não farão coisas ruins, dizendo: “Como isto está errado, é possível que outros nos julguem mal.” Procuram então fazer o bem ao serem observados, crendo piamente que todos os demais lhes admirarão muito com isto. Contudo, estas são meramente opiniões comuns e mundanas. Existe, contudo, o outro lado da moeda, como aqueles que se comportam como bem entendem, e estes são vilões de verdade! O fato é que monges devem praticar o buddhismo pelo buddhismo, esquecidos de seus corpos de apego e impermanentes. Devem lidar com as situações de acordo com o momento. Principiantes no Caminho devem abster-se de fazer o mal e fazer o bem, quer seja por vontade própria ou por moralidade. A isto se chama deixar cair corpo e mente.”
 
Meu mestre disse:
“Eisai, meu mestre já falecido, enquanto morava no monastério de Kennin-ji, uma vez se deparou com uma situação inusitada, quando lá apareceu uma pessoa passando fome, e lhe pediu dinheiro: “Estou passando necessidades, e eu e minha família nada comemos nestes dias recentes. Todos vamos morrer de inanição. Podes fazer algo por nós?”
“Naquele momento nada havia no monastério que pudesse ser dado ao pobre, fosse comida ou dinheiro. Mestre Eisai pensou numa solução debalde. Finalmente lhe ocorreu que haviam algumas folhas de cobre batido que seriam utilizadas para fazer uma estátua buddhista. Ele as tomou, dobrou numa pilha, e as deu ao esfomeado, dizendo: “Venda isto e trate de comer.” O pobre, muito agradecido, as pegou e foi embora.
“Então os discípulos do Mestre Eisai ficaram aborrecidos com ele: “Como pudeste entregar este material caríssimo, que era para fazer a auréola de um santo buddhista50, para um mendigo desta forma? Não terás cometido com isto o pecado de usar de forma particular a propriedade de um monastério buddhista? Que achas a respeito?”
O mestre respondeu: “Todos tendes razão! Mas falando da vontade de Buddha, ele foi sempre bondoso bastante para doar tudo que era seu para todas as criaturas, e quando nada mais tinha, cortava de sua própria carne, mãos e pés. Mesmo que eu tivesse entregue o corpo todo do Buddha para alguém passando fome na minha frente, isto estaria de acordo com a vontade de Buddha. Mesmo que eu caísse no inferno com esta ação, teria com isto salvo todos os seres da fome. Que praticantes Zen tratem de avaliar esta maravilhosa perspectiva deste veterano Mestre iluminado, e que não a esqueçam jamais!” 

Trecho do livro Shobogenzo Zuimonki

Nenhum comentário:

Postar um comentário